O Programa Integrado de Controle da Mastite e Otimização da Criação de Bezerras (UNILEITE) é uma proposta desenvolvida por professores do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de Veterinária da UFMG com a perspectiva de construção de conhecimentos e técnicas atreladas à bovinocultura leiteira, a partir do fortalecimento do elo entre pesquisa, extensão e ensino. Fundamenta-se na aplicação de estratégias de controle da mastite, da contagem bacteriana no leite e na otimização da criação de bezerras em propriedades leiteiras do estado de Minas Gerais. Sob a perspectiva do trabalho interpessoal e multidisciplinar, objetiva capacitar produtores, técnicos e colaboradores envolvidos com a pecuária leiteira, além de preparar estudantes de graduação e pós-graduação em Medicina Veterinária para o mercado formal.
A produção leiteira em Minas Gerais segue, historicamente, tendo relevante impacto socioeconômico, ambiental e cultural. Segundo dados do IBGE (2019), o estado ocupa a primeira posição no ranking brasileiro de produção de leite, contribuindo com cerca de 27,1% do montante nacional e participando da vida de mais de um milhão de trabalhadores diretos. Dados semelhantes são expressivos na literatura, e demonstram a constante importância desse sistema agroindustrial para o país. Apesar do cenário promissor, a cadeia leiteira enfrenta severas dificuldades, como os altos custos de produção, as restrições de mercado, carência de mão-de-obra especializada e acesso à tecnificação. Paralelamente, as exigências para escoamento do leite se tornam cada vez mais robustas. No Brasil, as Instruções Normativas nº 76 e 77, de 26 de novembro de 2018, foram promulgadas para atualizar os Regulamentos Técnicos inerentes à captação e beneficiamento do leite, com vistas a aumentar a qualidade do produto final e garantir a segurança alimentar.
Nesse sentido, entende-se que a mastite, isto é, a inflamação da glândula mamária das vacas leiteiras, prejudica severamente a produção leiteira. Essa condição leva ao aumento da concentração de células inflamatórias no leite, além de substâncias termossensíveis que afetam negativamente o beneficiamento nos laticínios. Outro fator importante é o aumento do uso de antibióticos, preocupação recorrente para as autoridades de saúde mundiais. Outro ponto fundamental para o sistema produtivo é a criação de bezerras. Futuramente, serão as responsáveis pela produção de leite, influenciando diretamente no balanço financeiro atrelado à reposição, ampliação do rebanho e melhoramento genético nas propriedades. A interação entre patógenos, hospedeiros e ambiente determinam alta ou baixa incidência de doenças de acordo com manejo, instalações e imunidade animal. Da mesma maneira, métodos de alimentação e práticas de manejo são essencialmente importantes para garantir a otimização do desempenho. Logo, diante de tantos fatores que ilustram o contexto, nota-se que o panorama desafiador pode fomentar a desmotivação do produtor, o que eleva ainda mais a necessidade do trabalho extensionista e do técnico especializado.
Para tanto, é necessário que se entenda as abordagens adequadas para cada perfil de produtor.
É nesse contexto que o Programa Integrado de Melhoria da Qualidade do Leite e Otimização da Criação de Bezerras (UNILEITE) se insere. A capacitação de estudantes veterinários para o trabalho no campo, bem como a promoção de ações integradas entre produtor, colaboradores e alunos é enriquecedor para o âmbito profissional e contribui positivamente para a cadeia produtiva leiteira. Entender qual é o problema e como solucioná-lo dentro do recorte de cada propriedade é fundamental para a realização de um trabalho assertivo. Ademais, cabe ao extensionista esclarecer, junto ao produtor, quais são os desafios da propriedade e como solucioná-los.
Objetivo geral:
Ampliar a relação transformadora entre universidade e sociedade compartilhando as conquistas e benefícios da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica gerada na Instituição Federal de Ensino Superior (LDB). Adicionalmente, objetiva aplicar o Programa Integrado de Melhoria da Qualidade do Leite e Otimização da Criação de Bezerras (UNILEITE) em fazendas leiteiras.
Objetivos específicos:
Objetivos
● Aluno: conhecer a realidade do setor agropecuário em regiões e contextos distintos; aplicar conhecimentos técnicos adquiridos na sua formação profissional, adaptando-se às diferentes circunstâncias; interagir e participar com a sociedade local; aprender e se responsabilizar pela organização e realização de trabalhos em equipe e adquirir conhecimentos técnicos e científicos aplicáveis após sua graduação.
● Professor: proporcionar a interação dos alunos da Escola de Veterinária com o setor agropecuário, orientando-os quanto às evoluções e às modificações técnicas e socioeconômicas que estão ocorrendo para adequação didática e de pesquisa na universidade; estabelecer uma linha de pesquisa/extensão na área de melhoria da qualidade do leite e otimização da criação de bezerras.
● Profissionais e técnicos do setor agropecuário: promover a integração com os docentes e discentes da EV/UFMG, além de proporcionar uma reciclagem técnica e troca de informações no acompanhamento das atividades.
● Produtores rurais: compartilhar conhecimentos técnicos e gerenciais na propriedade rural, dentro dos limites temporais, estruturais e materiais do Programa Integrado de Melhoria da Qualidade do Leite e Otimização da Criação de Bezerras (UNILEITE), despertando o interesse do produtor rural em relação ao uso de metodologias aplicadas para controle da mastite e otimização da criação de bezerras.
Metodologia:
Competirá aos integrantes do projeto o conhecimento técnico sobre o controle da qualidade do leite, otimização da criação de bezerras e o desenvolvimento de habilidades que envolvam a gestão de pessoas, o desenvolvimento profissional e pessoal. É responsabilidade do coordenador do projeto promover e gerir a realização de atividades internas do projeto, aprimoramento de técnicas de gestão, realização de reuniões, acompanhamento de resultados das fazendas, apresentação de seminários e discussão de artigos científicos. Aos proprietários das fazendas competirá o custo mensal da análise das amostras de leite, o envolvimento com o projeto e a participação na melhoria da qualidade do leite e na otimização da criação de bezerras. Aos colaboradores das fazendas, competirão as seguintes habilidades: autocontrole, passividade, nível de comunicação, trabalho em equipe, dinamismo, interação social, empenho, civilidade e autonomia.
A equipe do projeto, composta por alunos de graduação e pós graduação da EV-UFMG, será dividida em duplas: dois coordenadores de equipe e quatro duplas operacionais (composta por um coordenador e um auxiliar de dupla), sendo cada dupla responsável por duas ou quatro fazendas, dependendo do ciclo e da demanda do projeto. Anualmente, serão selecionadas oito a dezesseis propriedades para serem atendidas pelo projeto, como descrito no item 6.7 a seguir. As fazendas serão acompanhadas durante doze meses e serão realizadas visitas mensais para realização da assistência. O deslocamento entre a Escola de Veterinária da UFMG e as propriedades rurais será feito em veículos alugados e as visitas serão feitas, preferencialmente, aos sábados e domingos. Durante as visitas, será realizado o treinamento da equipe responsável pela ordenha, a coleta de amostras do tanque de refrigeração para análise laboratorial e o acompanhamento do manejo de bezerros na fazenda.
De acordo com as análises laboratoriais obtidas, será monitorado durante o período os valores de Contagem de Células Somáticas (CCS), Contagem Bacteriana Total (CBT, atualmente definido como Contagem Padrão em Placas - CPP), teores de gordura, lactose, proteína e extrato seco total do leite do tanque de resfriamento e a CCS individual de todos os animais em lactação. No início das atividades do ciclo, e quando for necessário, será realizada a análise físico-química da água utilizada na ordenha. Com enfoque na otimização da criação de bezerras, serão utilizadas ferramentas que permitam a avaliação do colostro, a transferência de imunidade passiva e o teor de sólidos totais da dieta líquida, que, por sua vez, aumentam a eficiência do processo de aleitamento das bezerras. Será realizado também o acompanhamento do manejo das bezerras, atentando-se à data de nascimento, à cura de umbigo, ao peso ao nascimento e à desmama, ao fornecimento de colostro, aos episódios de diarreia, à vacinação, ao fornecimento de alimento líquido, à transição para alimento volumoso, à idade ao desmame.
Indicadores de avaliação:
A avaliação da ação de extensão é realizada buscando validar em condições tipicamente brasileiras, condutas técnicas simples, aplicáveis em condições de fazenda e de grande impacto sobre a saúde de glândula mamária, melhoria da qualidade do leite e criação de bezerras.
Estudantes membros da equipe
Plano de atividades:
Durante as visitas serão realizadas as seguintes atividades:
- Treinamento da equipe responsável pela ordenha e da equipe responsável pelo manejo das bezerras na propriedade;
- Acompanhamento da rotina de ordenha e da limpeza dos equipamentos;
- Coleta de amostra de leite do tanque de refrigeração para contagem de células somáticas, contagem bacteriana total e pesquisa de resíduo de antibiótico no leite;
- Acompanhamento do manejo das bezerras na propriedade;
- Reunião com proprietário e funcionários para explicação do relatório da visita anterior e esclarecimento das dúvidas;
- Coleta de amostra de água para análise físico-química e microbiológica (realizada uma vez no início da etapa do projeto);
- Periodicamente, avaliação individual do escore de esfíncter de teto e escore de sujidade das vacas;
- Quando necessário, coleta individual de amostra de leite de animais em lactação para análise microbiológica (somente proprietários com disponibilidade financeira);
- Quando necessário, coleta de amostras de fezes e de sangue para eventuais análises da sanidade das bezerras leiteiras; avaliação da qualidade do colostro fornecido às bezerras leiteiras, bem como avaliação da eficácia da colostragem;
- Anotações dos seguintes dados pelos alunos responsáveis pela fazenda: ocorrências de mastite clínica, registro de partos e secagem, dados zootécnicos referentes à criação de bezerras, dentre outros.
Plano de acompanhamento e avaliação:
É realizado por meio de um sistema de acompanhamento e avaliação das atividades desempenhadas pelos coordenadores de equipe, coordenadores de dupla, auxiliares de dupla e integrantes em treinamento.
Processo de avaliação: Os integrantes da equipe UNILEITE serão avaliados mediante a proatividade, responsabilidade e compromisso com as atividades propostas.
Um plano de ação será confeccionado para toda equipe, com atividades direcionadas a serem realizadas por cada integrante. Ao final do mês, o cumprimento de cada tarefa será avaliado.
Relatórios deverão ser confeccionados dentro de prazos propostos e serão avaliados quanto ao conteúdo, padronização e envio no prazo estipulado.
Informações específicas
Articulado com política pública:
Não
Vínculo com Ensino:
Sim
Vínculo com Pesquisa:
Sim
Informações adicionais
Informações adicionais:
Produção científica: As informações geradas pelos estudantes nas fazendas no decorrer das atividades de campo serão lançadas em um banco de dados e, posteriormente, poderão ser apresentadas sob a forma de artigos científicos em congressos, seminários, simpósios, etc.
A captação de recursos de empresas parceiras para execução do projeto será realizada
pela Escola de Veterinária da UFMG, através da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Extensão (FEPE) sob a forma de participação em atividades de interesse mútuo. O orçamento financeiro previsto totaliza R$ 630.000,00, divididos em 5 ciclos de 12 meses (R$ 126.000,00 por ciclo).
