Desde a década de 1970 Montes Claros recebeu migrantes de muitas áreas do rural Norte mineiro. Agricultores e agricultoras ingressaram na vida urbana, mas muitos deles continuaram praticando nos quintais e terrenos baldios a agricultura que aprenderam na infância. Dominam, usam e trocam técnicas de lidar com a terra, formando a base de uma rica tradição que circula nos bairros da cidade produzindo alimentos, relações sociais e cultura.
Mas a vida urbana contemporânea tende a se afastar do rural e do agrícola. E hoje, grande parte da alimentação consumida nas cidades passa por processamento e beneficiamento industrial. Alimentos e cultura alimentar terminam por ser dissociados da agricultura, do lugar e dos sentimentos de pertencimento, diluindo a identidade cultural, a soberania alimentar e as próprias relações entre a população e a natureza.
A proposta do Sítio de Saluzinho, programa do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, é reatar alguns dos laços da população urbana com a natureza, a agricultura e a cultura material da agricultura familiar. Isto significa apresentar as técnicas tradicionais de produção e beneficiamento dos alimentos, significa conhecer as maneiras como a população rural se relaciona com a natureza, significa criar condições para que adultos, crianças e jovens entendam os fundamentos das técnicas agrícolas.
O Sítio de Saluzinho é uma área de 2 hectares no Campus da UFMG no bairro Universitário, Montes Claros, que reproduz uma pequena unidade familiar de produção. É formado por uma casa rústica que funciona como sede e coordenação, e estão em formação pomar, horta, lavoura e instalações de recepção de visitantes. A denominação dada ao sítio é uma homenagem a Salustiano Gomes Ferreira, de Varzelândia, que na década de 1960 resistiu às tomadas de terra e lutou pelos direitos dos camponeses do Norte de Minas Gerais.
Objetivo geral:
O objetivo deste programa é formar e incorporar à Universidade um grupo de agricultores/as, “especialistas” tradicionais que reproduzam o cotidiano da unidade familiar de produção no campus, em interação com atividades regulares de ensino, pesquisa e extensão, fortalecendo as relações da Universidade com o saber tradicional.
Objetivos específicos:
Objetivos
a) incorporar à UFMG um grupo de agricultores urbanos, especialistas em conhecimentos tradicionais, que reproduza dentro da universidade o cotidiano de vida e trabalho de uma unidade familiar de produção;
b) criar interação entre este sítio tradicional e os cursos regulares de graduação da Universidade, particularmente na área de sementes, agricultura familiar, sociologia rural e fruticultura;
c) estimular a incorporação do conhecimento tradicional aos temas de pesquisa da Universidade, valorizando o saber local e territorial;
d) articular as atividades do sítio familiar com visitas de classes organizadas de crianças em idade escolar, procurando estimular seu interesse e respeito pela agricultura e pelas raízes culturais e técnicas próprias da região;
e) valorizar o conhecimento e a prática de agricultura executada pelos agricultores ¿especialistas¿ que participam da atividades;
f) criar as bases para um centro de documentação da história, da cultura material
Metodologia:
A metodologia do programa consiste, em: e) colocar o sítio em funcionamento regular, efetuando as correções de rumo; f) constituir o centro de documentação e o centro de ofícios.
a) Selecionar e formar um grupo de agricultores/as urbanos que reproduza o cotidiano da unidade familiar de produção dentro da universidade. A equipe de 9 agricultores(as) foi constituída a partir de pesquisa na área urbana de Montes Claros executada por grupo do ICA/UFMG.
b) Construir e operar a infra-estrutura física necessária.
c) Habilitar equipes de graduandos e mestrandos para operar no relacionamento entre agricultores/especialistas com crianças/visitantes. O relacionamento consiste em organizar, de acordo com cronograma estabelecido com escolas de ensino fundamental e cursos regulares de graduação do ICA/UFMG, visitas diárias inicialmente com duração de 4 horas que ocorrem no período da manhã (8 às 12 horas) durante 3 dias por semana. A rotina de visita será composta pelas seguintes atividades: i) apresentação da proposta do sítio, ii) oficina, iii) merenda, iv) visita à UFMG, v) avaliação, vi) mensagem institucional, vii) despedida. Cinco especialistas tradicionais estarão em atividade por dia, cada um deles/as oferecendo uma oficina a um grupo de 5 visitantes conduzidos por um monitor (estudante de graduação da UFMG). Essas oficinas inicialmente versarão sobre: plantas medicinais, lavoura tradicional, reciclagem, urucum e tintas da natureza, mandioca e seus derivados, cana-de-açúcar, frutos dos quintais, côco macaúba, brincadeiras tradicionais;
d) Estabelecer sólida parceria com escolas de ensino fundamental de Montes Claros, que devem, não apenas participar das atividades, mas também sensibilizar as crianças e docentes para participar do programa;
e) Compreende-se como condição para funcionamento regular do sítio a situação em que o programa receba 1 veze por semana grupos de até 35 pessoas; será privilegiada a visita de estudantes de ensino fundamental I no decorrer de todo o ano letivo, pela facilidade programar e organizar os fluxos de visitantes.
f) O Centro de Ofícios e Centro de Documentação da Agricultura Familiar são desdobramentos do sítio. A instalação do Centro de Ofícios contará com oficinas de beneficiamento de produtos, como a cana e a mandioca. O Centro de Ofícios, contará com oficinas de processamento tradicional de produtos, apresentação das técnicas de produção de bens de elaboração sofisticada, como doces, quitandas e outros produtos da indústria rural.
Indicadores de avaliação:
A avaliação do programa de extensão será feito por meio de:
- avaliações diretas das crianças e seus professores ao final de cada atividade realizada;
- atividade avaliativa na Escola Parceira por meio de uma atividade/questionário.
- balanço semestral feito pela equipe coordenadora das atividades realizadas, avanços e dificuldades superadas;
- contabilização do número de atividades promovidas e publico participantes;
- avaliaçoes escritas e oriais das organizações parceiras.
Estudantes membros da equipe
Plano de atividades:
Os estudantes participantes do programa terão incumbências de:
1. receber visitantes na área física do programa;
2. conduzir oficinas de capacitação de acordo com o cronograma do programa;
3. capacitar agricultores urbanos, monitores do Centro de Referência da Cultura Material;
4. participar da supervisão das atividades cotidianas do Centro (planejamento de visitas, recepção de visitantes, avaliação de conteúdo de oficinas, entre outras);
5. participar das atividades formativas do Centro.
6. Apoiar atividades de capacitação de professores do ensino fundamental;
7. Apoiar atividades de pesquisa vinculadas às atividades de extensão do Sítio de Saluzinho.
Plano de acompanhamento e avaliação:
Os professores coordenadores atribuem atividades para grupos de estudantes, agrupando-os e orientado-os em temas escolhidos por afinidade e/ou formação. Exemplo de agrupamento por formaçao: estudantes de engenharia florestal em oficinas de etnoconhecimento; estudantes de agronomia em oficinas sobre plantas medicinais; estudantes de engenharia agrícola em oficinas de manejo de solo. Por afinidade: estudantes com gosto por arte em oficinas de artesanato, estudantes com preferências por história em oficinas de cultura local.
Processo de avaliação:
As atividades serão avaliadas diariamente ao fim das oficinas, semanalmente em reuniões planejadas do grupo de trabalho, semestralmente com as escolas parceiras e anualmente por ocasião do planejamento de atividades. Em todas elas, estudantes e toda a equipe participante estarão sob avaliação.
Informações específicas
Articulado com política pública:
Sim
Vínculo com Ensino:
Sim
Vínculo com Pesquisa:
Sim
Informações adicionais
Informações adicionais:
O Sítio de Saluzinho dispõe, no campus da UFMG em Montes Claros, de área de 2 hectares com pomar em formação em formação, horto de plantas de uso medicinal, pasto, lavoura e lago; além disso, conta com casa sede que imita domicílio rural e serve para recepção dos visitantes, 4 quiosques de 24 m2 integrados às áreas agrícolas, onde acontecem as oficinas, e um salão de 100 m2 imitando construção rural, o ocorre a recepção dos visitantes. entre 2015/2020, a equipe do Sítio coordenou a oferta de 685 oficinas temáticas para 6.829 crianças do ensino fundamental, e duas oficinas de formação para 73 educadores de escolas públicas, alcançando aproximadamente 30% do total de crianças matriculadas na rede pública de ensino fundamental da área urbana de Montes Claros.